Escrita entre 1876 e 1877, esta é uma tragédia bem portuguesa, em torno de Luíza e Jorge, um feliz casal
burguês, confortavelmente instalado num bairro lisboeta.
Casados há três anos, têm alguns amigos da casa, com os quais convivem em
soirées íntimas, numa existência pacata, onde a única falta é “um pequerrucho”.
Engenheiro de profissão, Jorge vê-se obrigado a viajar até ao Alentejo em trabalho, deixando a sonhadora Luíza
na capital, sozinha, entediada. Por essa altura, volta
de Paris, Bazílio, primo de Luíza, seu antigo namorado de juventude, por quem nutriu profundos sentimentos e sofreu amargamente aquando da separação.
Bazílio, também ele enfastiado nos dias tórridos de Lisboa, visita Luíza a fim de
retomar as antigas ligações familiares e algo mais. Ela, ingénua e apaixonada, deixa-se levar
pelos encantos europeus de Bazílio, pelo seu requinte, as suas palavras
quentes, as suas meias bordadas. Iniciam então um romance ilícito que dura
algumas semanas, até que a felicidade dos dois é subitamente abalada: Juliana, criada de dentro de Luíza, amarga,
rancorosa, ambiciosa, está na posse de algumas cartas dos amantes, e chantageia
a ingénua patroa. A história desenrola-se com foco na angústia de Luíza, a
verdadeira personagem central da história, e culmina num final dramático e imprevisto. Eça de
Queiroz tem aqui a sua obra-prima. Uma
tragédia de faca e alguidar, mas ao mesmo tempo uma comédia, com detalhes
ousados, quase eróticos. Uma caracterização soberba da sociedade portuguesa do século XIX. Admirável a capacidade de Eça de transmitir o sofrimento e os sentimentos
contraditórios dos personagens, principalmente da pobre Luíza, levando o
leitor a angustiar-se, como se estivesse ele próprio a viver o episódio.