quinta-feira, 19 de abril de 2012

"O Primo Bazílio", de Eça de Queiroz



Escrita entre 1876 e 1877, esta é uma tragédia bem portuguesa, em torno de Luíza e Jorge, um feliz casal burguês, confortavelmente instalado num bairro lisboeta. Casados há três anos, têm alguns amigos da casa, com os quais convivem em soirées íntimas, numa existência pacata, onde a única falta é “um pequerrucho”. Engenheiro de profissão, Jorge vê-se obrigado a viajar até ao Alentejo em trabalho, deixando a sonhadora Luíza na capital, sozinha, entediada. Por essa altura, volta de Paris, Bazílio, primo de Luíza, seu antigo namorado de juventude, por quem nutriu profundos sentimentos e sofreu amargamente aquando da separação. Bazílio, também ele enfastiado nos dias  tórridos de Lisboa, visita Luíza a fim de retomar as antigas ligações familiares e algo mais.  Ela, ingénua e apaixonada, deixa-se levar pelos encantos europeus de Bazílio, pelo seu requinte, as suas palavras quentes, as suas meias bordadas. Iniciam então um romance ilícito que dura algumas semanas, até que a felicidade dos dois é subitamente abalada:  Juliana, criada de dentro de Luíza, amarga, rancorosa, ambiciosa, está na posse de algumas cartas dos amantes, e chantageia a ingénua patroa. A história desenrola-se com foco na angústia de Luíza, a verdadeira personagem central da história, e culmina num final dramático e imprevisto. Eça de Queiroz  tem aqui a sua obra-prima. Uma tragédia de faca e alguidar, mas ao mesmo tempo uma comédia, com detalhes ousados, quase eróticos. Uma caracterização soberba da sociedade portuguesa do século XIX. Admirável a capacidade de Eça de transmitir o sofrimento e os sentimentos contraditórios dos personagens, principalmente da pobre Luíza, levando o leitor a angustiar-se, como se estivesse ele próprio a viver o episódio.

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